quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Exceptio Volat

Da casa quero a cama, do caos eu tiro a trama
Do olho eu vejo o fundo, no fim eu não me olho
No instante quero o já, já que insisto no que dá (e passa)
Do coma quero a vida, na vida quero o sono
Insano, quero alívio. Que me dá. Quem me dera.
Da sombra quero o frio, da sobra quero o resto
Na hora quero o ponto, não conto, arresto
Do vento quero um tanto. Não trato. Tiro. Planto
Da lógica razoável, do problema, da tangente
Da frase, da palavra, da rima e epopéia
Eu tiro o que inserem
Me deixo, se preferem. Me deito no ínterim
No útero onde moro
Da mira tiro o alvo, tão ágil faço frágil plágio
De mim mesmo não consigo
Com ou sem, sigo
Ligo, desligo. Foi-se o instante
Um tanto obstante do momento certo.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

O que não é bonito

O que é bonito afinal, caro Lenine?
Se há algo nessa inifinitude, infinitez, infinidade, inafinidade
Confesso que eu não persigo
Não prossigo tal afinidade
Confesso, não sou
Se o que eu gosto já acaba, não começa, completa a sina
Assino o que se estragou
Não danço, dancei, seguindo com passos descompassados
Arrítmicos. Frustrados
E que chova, corroa, corrija rigidamente meus quase acertos
Certo do zero, o nada, que não gosto nem desgosto
Que não sinto
Já não desprezo o que escrevo, nem me atrevo a arriscar
Acredito no que prezo. Prego o que sinto
E valorizo o que gosto, mesmo não demonstrando
Se grito ou se gravo, tanto faz o que agravo
A gente foi, meu caro
E o que fica não é o que sobra, mas o que falta
E quando passar o que se dá, despachado para o lado de lá
Eu não despirei nem disporei, à vista, contraporei
Remontando o despedaço. Despedaçando o remetente
Se há alguma coisa de bonito em tudo, nisso ou naquilo outro, eu continuo
Permanentemente preso ao presente.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Velha rua sem saída

Nuas ruas e avenidas pálidas
Onde as árvores nem percebem
O vento corriqueiro e previsível
Invisível com sempre. Ligeiro e passageiro
As folhas que o acompanham na rítmica dançante
Sob o manto turvo de um final de tarde
Nublado. Estático, sempre encontro
Estreptococos alucinantes de bacilos vacilantes
Valentes, velhos raros
E eu não digo o que, sequer, sempre esqueço
Por essas ruas que não caminho de vez em quando
Quanto mais menos conta
A quota negativa da gigantesca jura arbitrária
Nas plácidas ruas e avenidas suas
Onde as folhas não caem quando o vento falta
E nem falam quanto menos cata
É de carta, cartel, corda e cordel
A última distância que se esconde nos escombros
Entre ombros e sorrisos assombrosos de amálgama.